Lilypie Kids Birthday tickers Lilypie Third Birthday tickers

sábado, 14 de junho de 2008

O relato...

Um mês após a vinda do Lucas ao mundo a necessidade de relatar o seu nascimento acentua-se... porque a mais ninguém pertence senão a nós, só poderia ser relatado no neste espaço e em mais nenhum lado...

A pressão acentuava-se, já íamos a oito dias da data provável do parto, as caminhadas repetiam-se e a procura por mezinhas e receitas tradicionais duplicavam... o dia 9 de Maio não me saía da cabeça, era já amanhã a data em que recusara recorrer á indução.

Na quinta (8 de Maio) ao fim do dia depois de mais um dia de caminhadas deitei-me no sofá, estava cansada, muito mais psicologicamente do que fisicamente, entrei facilmente no sono e dai ao sonho foi um pulo, sonhei que te tinha nos braços que tudo corria bem, sonhei que as águas rebentaram e... acordei, acordei com as aguas quentes a aquecer-me o corpo, sorri... chegou o momento, fiquei eufórica telefonei á Lia expliquei-lhe a situação, ela pediu-me calma e descanso “dorme ainda falta muito, vais precisar de ter força...” dizia ela num tom doce. Era 1 da manhã ninguém me conseguia parar, mudei os lençóis da cama, coloquei o resguardo plástico, procurei as velas que queria utilizar e mentalizei-me do que o meu filho estaria comigo daqui a umas horas. As contracções vieram pouco depois espaçadas por pouco tempo mas suaves como se me estivessem a dar oportunidade de as conhecer aos poucos, mantive-me com elas todo o dia nove, a Lia juntou-se a nós e passamos um dia calmo, á noite a ansiedade acumulava-se dentro de mim, eu só queria ver o meu filho, “já vai nascer do dia 10” dizia a Lia, as dores eram suportáveis mas muito menos espaçadas, cada uma deixava-me um sorriso no rosto, “falta tão pouco filho, falta tão pouco...”

A madrugada de dia 10 foi passada entre a banheira e a cama, dormir era impossível não queria perder um único segundo do meu sonho. De manhã a parteira chegou a dilatação era pouca e só nos restava esperar, uma espera que se prolongou durante todo o dia, vi o sol abandonar a minha sala e entrar pelo meu quarto as horas passavam a correr e a noite apoderou-se do dia, “já não vai nascer no dia 10” pensei. As dores apoderavam-se de mim e o cansaço também o meu corpo não pedia comida nem bebida, só queria fazer nascer o meu filho... na penumbra da noite dancei com o meu marido uma musica que nunca tínhamos dançado uma musica só nossa, a cada contracção o apoio dele a cada alivio o seu beijo foi sem duvida o momento mais feliz da minha vida, simples e sincero.

Com o raiar do dia veio o desalento, “vamos para o hospital, o trabalho de parto está muito prolongado, já não tens força nem condições para continuar, não comes nem dormes á dois dias”, estas palavras espetavam-me o coração como facas e doíam-me mais que qualquer contracção, “ a dilatação esta feita vais ver que não quando lá chegares não vai demorar nada” dizia a parteira, eu só pedia mais uma oportunidade, que acreditassem em mim, não queria acreditar no que ouvia aquelas palavras, não podia querer que ia para o local que menos desejava.

Dei entrada no hospital ás 7,30 da manhã de dia 11, pelo caminho gritei, chorei e culpei-me por não conseguir sozinha... entrei na sala de observações, dei as informações suficientes para sofrer as represálias por uma tentativa de parto em casa, foi tocada com frieza, fui tratada como uma irresponsável, a posição de face do meu filho originou uma onda de curiosidade e os toques repetiam-se sem qualquer sensibilidade a minha dor, fui nua com um penso higiénico enorme entre as pernas para uma sala onde não sabia o que ia acontecer, nunca ninguém me disse directamente o que se passava, nem que o meu filho viria ao mundo de cesariana.

A sala estava fria, as luzes encadeavam-me, as pessoas entravam, movimentavam utensílios, tocavam-me, espetavam-se sem qualquer palavra, fui anestesiada sem qualquer informação, a pressa reinava e toda a equipa falava entre si como se eu não existisse, senti o corte... tremia de frio e de medo, sentia-me impotente, insignificante... senti as mãos dos médicos a remexerem as minhas entranhas e arrancarem o meu filho de dentro de mim, o meu umbigo parecia que ia ser arrancado com a violência ... “8h20 m, 3410 kg”ouvi alguém dizer, não ouvi o meu filho chorar, não o senti, não o vi... apenas a luz branca continua a entrar pelos meus olhos...

Na outra ponta da sala alguém cuidava dele, ouvi comentários frios sobre o seu estado, sobre a minha opção... vi que o vestiam sem saber se era a roupa que tinha escolhido com tanto carinho... finalmente ouvi-o chorar... imaginei-o, queria tanto sentir o seu cheiro tal como se fosse em casa, tal como tinha sonhado... enquanto olhava desesperada para o fundo da sala sentia as mãos frias tornarem a por as minhas entranhas dentro de mim. Mais de meia hora depois alguém me deixou ver a sua cara, estava inchada os olhos não abriam e a testa tinha o dobro do tamanho, rapidamente explicaram-me que o iam levar para a neonatologia que a sua cara estava inchada pois a posição “de face” tinha-o obrigado a bater contra o meu osso... fechei os olhos nunca o imaginara assim, cheirei-o, senti a sua pele com a minha cara, senti o seu cabelo e chorei em silêncio...

As ultimas e poucas palavras que ouvi da boca do médico foi: “Pronto já está, aqui tem o seu parto natural. E para a próxima a ver se vem mais cedo que já estou a passar da minha hora...”
Afinal o sonho lindo que estava a ter no dia nove era apenas só um sonho, a mãe natureza não permitiu a sua realização. O Lucas não nasceu de mim... foi arrancado, o seu cordão foi cortado sem deixar de pulsar, não foi colocado em cima do meu peito, não o pode amamentar, só o pode pegar mais de 24 horas depois, nunca o tive comigo no serviço de obstetrícia, deram-lhe chucha e suplemento, picaram-no em ambas as mãos e ambos os braços para fazerem analises de prevenção sem autorização, deram-lhe o primeiro banho, mudaram-lhe a primeira fralda, roubaram-me tudo o que sonhei...

E era um sonho tão simples, apenas queria parir o meu filho...

segunda-feira, 9 de junho de 2008