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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Relato do parto da Laura (VBAC)


Ao contrário do parto do Lucas, neste segundo parto não foi urgente escrever ou verbalizar o que senti, ao contrário do meu primeiro parto, o parto da Laura foi vivido de uma forma bem diferente e o pós parto imediato foi repleto de bons sentimentos e de muita gratidão, pela Mãe Natureza me permitir parir um filho de forma tão natural.

Desde de inicio esta gravidez foi vivida com mais medo, com mais ansiedade, com mais dúvidas sobre o caminho a percorrer, se por um lado a vontade de uma segunda tentativa de um parto em casa nos acompanhava, por outro o medo dos riscos de uma cesariana anterior empurrava-nos para o cenário hospitalar, durante muito tempo debati-me com estes dois cenários e a hipótese de ir directamente para o hospital fazia crescer em mim um sentimento de cobardia, fazia-me acreditar que estava a fugir e que o medo estava a levar a melhor...
... Contra todos os receios, dúvidas e dificuldades que foram aparecendo no nosso caminho, a decisão estava tomada: O nascimento da Laura começaria em casa e se tudo corresse bem acabaria no mesmo local!

Passaram-se as 38, 39, 40, 41 semanas, apesar de todos os indicadores médicos dizerem que a Laura não nasceria de termo, a Laura decidiu acompanhar a sua Lua até ao final, nas semanas anteriores ao nascimento da Laura justificávamos o atraso e controlávamos a nossa ansiedade com o doppler e o pinar, no fim de semana anterior contava-se Luas no calendário, caminhava-se loucamente e perdia-se a noção do certo e do errado, do esperar ou não esperar, na segunda-feira 5 de Novembro começavam os sinais, as dores pequenas e descontroladas que nos avisavam que estava para breve. Tirei um tempo para falar com a minha filha e com a Mãe Natureza, pedi a Deus que me desse a oportunidade de me reconciliar comigo mesma e com o meu corpo, pedi alento á minha filha, chorei pelo meu filho e por tudo o que ele passou, mentalizei-me que a dor que ele passou no seu nascimento seria a minha força para parir a sua irmã, não arrumei o assunto como o deveria ter feito mas acredito que o transformei a raiva em força.
A terça-feira dia 6 entrou com dores mais fortes, com posições menos confortáveis, com a impossibilidade de descansar, entrava em trabalho de parto, a minha segunda viagem ia começar...
Fomos contactando com a nossa Doula, fomos vendo a evolução, com o raiar do dia avisamos também a parteira. O dia decorreu com a normalidade possivel, levamos o Lucas à minha mãe, e se algum dia colocamos em dúvida se ele deveria acompanhar o parto ou não, nesse momento decidimos sem ser necessário falarmos um com o outro que seria melhor ele não passar por esta carga emocional. Passamos o dia em casa acompanhados com as nossas Doulas (a minha irmã tornou-se sem dúvida uma doula formada neste parto!) e com visitas intercaladas da parteira. Ao pôr do sol, o medo do tempo apoderou-se de mim, passou uma noite e um dia e o medo de não conseguir estava a atingir-me, o fantasma do parto do Lucas estava mesmo ali ao lado a aterrorizar-me, chorei, pedi carinho ao David, que mais uma vez se mostrou o homem mais seguro do mundo, mesmo que por dentro tremesse como varas verdes. A noite já ia longa quando a parteira se juntou a nós e com ela o primeiro toque que lhe traria o ponto de situação e segurança e que me trouxe a mim o descontrolo total, o toque traduziu-se em um dedo de dilatação, um dedo, naquele momento o mundo caiu-me em cima, o fantasma do parto do Lucas tornou-se cada vez mais real e o medo tomou conta de mim.
A partir deste momento perdi a noção de tempo, perdi o controlo das dores e do trabalho que estava a fazer à um dia inteiro. As dores vieram com uma força estrondosa, que não me permitiam pensar em como apazigua-las, o cansaço mostrava-se agora avassalador e por vezes nem me permita abrir os olhos, descansar entre as contracções tornava-se impossível e elas chegavam cada vez com mais força, atingido-me o sacro e o coxis como facas, vagueei pela casa como uma louca, gatinhei e deitei-me no chão como um animal, fugi do toque de qualquer pessoa e implorei a todos que me ajudassem, mesmo sabendo que ninguém poderia fazer mais do que aquilo que estavam a fazer e só eu poderia fazer algo por mim própria e pela minha filha.
A noite passou entre dores, momentos lúcidos e momentos de inconsciência, ouvia os sons da minha casa, ouvia as vozes que me pediam e aconselhavam, mas já não conseguia ter discernimento para reagir, a minha mente não funcionava e o meu corpo não reagia aquilo que era pedido, a força que fazia parecia não ter sucesso e o período explosivo parecia-me interminável.
Ao amanhecer, a decisão tinha que ser tomada ou ir para o hospital ou ser sujeita a oxitocina para que eu terminasse o meu trabalho, pedi para me explicarem vezes sem conta, pedi opiniões, ouvia todos os presentes a discutirem as hipóteses,  mas na minha cabeça nada fazia sentido a não ser ter a minha filha, faltava tão pouco não podia desistir, não podia morrer na praia como do Lucas. Aquelas duas palavras faziam eco na minha cabeça e para mim traduziam-se apenas em: "Faz força, põe  a tua filha cá fora já, não à mais tempo...", quando o meu corpo me permitiu deitar para que a parteira me fizesse mais um toque, uma força escondida dentro de mim revelou-se, fiz uma força que não conhecia ter, pensei no meu filho, pensei que não iria permitir que fizessem a minha filha aquilo que fizeram ao Lucas. Senti-me a arder, senti que o meu corpo se rasgava, mas não consegui parar, apenas a ideia de por a minha filha ao mundo prevalecia, a Laura nasceu quanto a mim de uma forma repentina, não senti a cabeça dela sair, não sei se fez a rotação, não senti a próxima contracção para expulsar o seu corpo, apenas fiz toda a força que possuía, só parei de a fazer quando a parteira a colocou em cima de mim e todos me diziam que a minha filha nascera e que eu tinha conseguido... nem queria acreditar, não conseguia acreditar que tinha conseguido, que a Mãe Natureza me tinha dado o privilégio de ter um filho pelos meus próprios meios, à minha volta vi a alegria e a emoção de todos, todos tinham parido a minha filha naquele momento, foi a visão mais bonita que tive... fechei os olhos, senti o pequeno corpo quente da Laura em cima do meu e cheirei-a, tal como cheirei o Lucas... o mesmo cheiro, um cheiro inconfundível, o cheiro dos meus filhos... Bem vinda Laura.

Este relato não poderia terminar sem fazer menção a alguns aspectos e agradecimentos.
Este relato é aquilo que eu vivi enquanto parturiente, mas acredito que este mesmo parto foi vivido de formas bem diferentes pelas pessoas que me acompanharam, não faço referência a horas, pois perdi muito a noção das horas durante o trabalho de parto e prefiro não errar!
De referir que o pós-parto foi fantástico, calmo e sem qualquer tipo de stress associado, além das dores no coxis que ainda hoje me acompanham as restantes dores foram suportáveis, fiz uma laceração que me dava direito a um ponto, que dispensei!  A Laura mamou imediatamente após o seu nascimento ainda presa a mim pelo cordão umbilical, que viria a ser cortado pelo pai após deixar de pulsar e após a expulsão da placenta.

Os agradecimentos especiais:

Este parto não teria sido possivel, sem o apoio, a força, o amor do meu grande marido, que mais uma vez me acompanhou e acreditou em mim, independentemente do medo e do trauma da nossa primeira experiência, a ti David o meu muito obrigada por acreditares em mim mais uma vez... amo-te muito.

À minha grande irmã Luciana, que sempre me apoiou e muito me acalmou, a minha doula de sangue que virou o mundo e interrogou tudo e todos para que o meu parto chegasse a bom porto, este parto é também dela, assim como o da sua filha Luísa foi também um pouco meu.

À minha Mãe, que tive a privilégio de ter junto a mim durante o trabalho de parto, que sofreu ao ver a filha sofrer e que pude oferecer aquela que penso ser a maior prenda do mundo, ver um neto nascer... obrigada Mãe és a mulher mais forte e corajosa que conheço, o meu exemplo de vida.

À minha doula Sandra Oliveira, que muito me questionou durante toda a gravidez, que muito me fez pensar, que muito soube ler da minha mente sem eu lhe dizer uma única palavra. Que acreditou em mim e neste parto, que foi imparável e incansável em todo o parto. Obrigada

Às parteiras. A que me acompanhou durante a gravidez e que foi do mais sincero e correcto connosco, mostrando as suas incertezas e dúvidas, mas também a sua disponibilidade, a sua calma e serenidade no pós parto, obrigada C. tens um lugar muito especial no nosso coração. À Mary, que me conquistou além de eu ser muito difícil de conquistar, que foi super disponível e correcta connosco, que partilhou o seu grande conhecimento. Às duas que foram incansáveis durante todo o parto.

Ao meu grande filho Lucas, por tudo... pela experiência que me deu à 4 anos atrás, pelo crescimento que me proporcionou durante todos este anos, pela força e a coragem que me deu durante este parto mesmo sem estar fisicamente presente, foi sem dúvida a minha força para que a sua irmã viesse ao mundo da forma que veio... Obrigada meu filho...